AOS DONOS
Alguns de vocês acompanharam a história da Danka, minha querida Bull especial que, infelizmente, partiu em dezembro passado. Ela ingeriu pedaços de brinquedo duro, que junto com gaze de curativo, obstruiu seu intestino. Fizemos a cirurgia, mas segundo o veterinário não tinha jeito. Eu estava ao lado dela na hora da injeção final. É impossível eu falar disso com tranqüilidade. Essa foi uma das piores dores que senti na minha vida. Há quem possa dizer: “Mas que exagero, era só um cão”. Outros podem pensar: “Nossa, de pensar que isso pode acontecer com meu cão já me dá desespero”.
A Danka partiu na mesma semana que finalmente tirou a prótese que carregava há oito meses, e por fim teria um pouco de tranqüilidade e “vida normal”, sem curativos diários, idas quinzenais ao hospital ou ingestão de tantos medicamentos.
Fiquei uma semana sem sair do meu quarto, sem trabalhar mesmo tendo o apoio de um marido compreensivo e filhos carinhosos. Ao escolher uma foto da Danka, entre tantas tiradas em nossa maravilhosa e curta convivência de um ano e oito meses para enviar ao Bullblog, meu marido, “homem feito”, forte e que raramente derrama uma lágrima, chorou como uma criança.
Algum tempo depois ganhei de uma criadora de outro estado, que conhecia nossa história, a Rebecca, uma linda e forte Bull com um ano e meio. Ela nos fez bem e apesar da minha tristeza pela Danka, a Rebecca começou a arrancar de mim alguns sorrisos. Optamos por castrá-la, porém por imperícia e negligência comprovada do veterinário ela morreu de hemorragia interna (foi feita a necropsia). Ainda na clínica, quando reparei no sangue que saía do corte fiquei preocupada, mas ambos os veterinários da clínica disseram, com toda a confiança, que isso era normal, que dos vasos da pele saía sangue em alguns casos. Eu ainda insisti e disse que era muito sangue, mas o que ouvi foi: “Você se preocupa demais. Ainda está traumatizada por causa da Danka”. Ela recebeu alta. Trouxemos então a Rebecca para casa e à noite ela levantou, tomou água, fez xixi e dormiu no meu quarto. Na manhã seguinte eu a coloquei no terraço (local fresco e mais amplo) e ao ir vê-la pouco depois a situação estava crítica: havia sangue por todo o lado. Ela ainda, ao me ver, abanou o pequeno rabinho e ficou feliz (dói demais lembrar disso). Liguei desesperada para os veterinários que me orientaram a apertar mais a faixa na barriga dela e a levá-la para a clínica, mas não deu tempo. Ela não resistiu e morreu no caminho, no colo do meu marido. Quando ele disse: “vá devagar, ela se foi”, eu bati o carro. Talvez eu nem precise contar a vocês como fiquei e o que passei depois disso. Em menos de dois meses perdi duas “meninas”, linda, brincalhonas, inocentes.
O luto por um animal de estimação, comprovadamente, é tão (ou mais) profundo quanto à perda de um ente querido. Perdemos, neste momento, uma fonte de amor incondicional, principalmente por parte do animal. Não é tão aceito ou compreendido pela “sociedade” esse sentimento. Nem sempre dá para faltar no serviço e chorar cada vez que uma lembrança vem à nossa mente,. Parece exagero e “frescura” para algumas pessoas.
O que eu quero dizer a vocês, donos e/ou pais de “filhos de quatro patas”?
– Que escolham profissionais muito bem indicados, de confiança, e se possível especializados no assunto. A medicina, mesmo a veterinária, é muito ampla. Têm-se na medicina humana cardiologista, dermato, oftalmo, gastro e diversas outras especialidades e é possível também na veterinária encontrar-se profissionais especializados em oftalmologia, dermatologia, cirurgias, etc. A Danka foi tratada pelo pessoal da USP (cirurgiões ortopédicos) e correu tudo bem. Creio que não ela não receberia um tratamento melhor nem eu encontraria médicos tão qualificados.
– Que ouçam sua intuição. Se ela disser: “pegue seu cão no colo, saia correndo e vá para o hospital mais próximo”, façam isso!
– Que o luto existe, é real, dolorido e sofrido, podendo demorar muito para passar. Já fazem cinco meses e por mais que eu tente não deixo de pensar no assunto e chorar quando o faço. Li o caso de uma moça que ficou quase um ano até superar e tocar em frente a vida após uma perda dessas. Eu espero pelo dia em que, ao lembrar-se dessas inocentes bulls, venha algo mais brando, suave, uma doce e saudosa lembrança onde os momentos vividos terão muito mais peso e serão mais fortes que os momentos finais.
– Que cada um reage de um jeito e arrumará “ferramentas” para superar ou ao menos prosseguir nem que seja durante algum tempo no “automático”. Felizes aqueles que simplesmente prosseguem (move on!). As coisas seriam muito mais simples.
A perda da Danka com a da Rebecca logo sem seguida foi algo totalmente inesperado e traumático. A perda da Danka roubou-me a alegria. A da Rebecca fez com que eu me questionasse e culpasse por tê-la adotado, arrependesse por ter feito uma viagem “bate-e-volta para o outro estado para dar-lhe um destino trágico, enfim, por ter confiado em tais profissionais.
Resta ainda a dúvida se a morte da Danka foi realmente algo inevitável ou se foi também imperícia, já que foi o mesmo veterinário que operou as duas. Mas nunca vou saber. O que sei é que foi uma das piores dores e fases que senti e passei na vida adulta.
Tenho uma vida realizada em vários segmentos, mas esta lembrança me faz desabar. Tenho também outras “filhas de quatro patas”, queridas também. Para mim todos os cães são especiais, porém o bulldog, com essa carinha e jeito gostoso, doce, companheiro, com esse olhar de “ah, me dá atenção, vai…”, com sua inteligência, alegria, graça e ao mesmo tempo um jeito “brucutu” é realmente uma raça muito especial.
Falei acima de “ferramentas” para prosseguir, então a última coisa que quero dizer a vocês, donos/ “pais”, é que o olhar inocente de outro cão não sabendo ou entendendo por que você chora tanto, por que se tranca no quarto ou por que está distante, nos ajuda a prosseguir, pois eles não têm culpa. Também querem e precisam de nossa atenção. Somos responsáveis pelo amor que sentem por nós (isso me lembra “O pequeno príncipe”, especialmente o trecho: “… Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas…”). Olhei muito para a Willow, minha York de 8 anos, para conseguir sair do quarto. O coração ou o amor é algo flexível, ainda bem. Podemos amar de novo, inclusive outros animais, mas digo, sem sombra de dúvida, que aqueles que partem levam consigo um pedaço de nosso coração. O que ficou foi uma portinha trancada, com um dono eterno.
Donos, “pais de filhos de quatro patas”: AMEM, CUIDEM, PROTEJAM.
Um Abraço, Rosângela
“Enquanto não amarmos um animal, uma parte da nossa alma permanecerá adormecida” (Anatole France)
Danka, o amor da minha vida, numa das consultas na USP e em meu quarto.
Rebecca, a energia de uma labradora num corpo de bulldog, olhando para a mamys e dormindo.
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